Where it all began – why I am passionate about this cause
I live in Canada, a country of abundance and social freedom, but I was born in Brazil and spent most of my life there. I can consider myself a privileged person because I never knew what poverty was. I mean, I’ve also had food, water, clothing and shelter. However, in Brazil it is not unusual for middle class people to rub shoulder with those who have nothing on a daily basis.
I grew up in the 70’s, the age of the Brazilian Miracle, when the economy was booming and the middle class lived a wealthy life. At home, we had three hired hand: two ladies, one to cook and the other to do the cleaning, and a young boy, Sebastião, who took care of the garden, ran errands and walked the dog. You have to understand that, in developing countries, when there is an economic boom, the rich become richer and the poor, poorer. That was the situation at home.
When I was in grade 5, I realized that I could read and write, but other people like our hired hands couldn’t. The ladies who worked for us had never been to school. So, I made a decision – I was going to use the books I had from grade 1 and teach our maids to read and write. After all, I’ve always wanted to be a teacher. I started helping them write and read their first letters using the garage of my house as a classroom. From that point on, I’ve always had the desire to teach others, especially the ones with no privileges in life.
I went to university and graduated with a degree in Linguistics/Education. After that, I started teaching English as a Foreign Language. I liked what I did, but I wasn’t feeling fulfilled and accomplished. A few years later, with the help of a couple of friends, we started a literacy program in a church in São Paulo. That was what I call bliss. We helped dozens of men and women to read and write, and we also educated the women on women’s health issues. What an amazing experience.
A few years later, I moved to another city, and started the same program in another church, where I also had the privilege to see tears in my students’ eyes when they were able to read and understand a simple paragraph. That’s how powerful education is.
My life had a few turns, and my family and I moved to Canada. As soon as I arrived, I got a job in a major college in the city of Calgary where I’ve been teaching immigrants and refugees English as a second language. Most immigrants who come to Canada are people who were privileged enough in their countries to be able to apply for permanent resident status here. They need education and work experience. Most refugees, however, had little or no schooling in their countries of origin. Some of them lived all their lives in refugee camps in Africa, for example. At any rate, the best thing about this job is to be able to listen to people’s stories. I dare say I learn more from my students than my students learn from me. This experience has widened my view of the world, and made me realize how small I am and how unfair life can be. There is a great danger in taking for granted what we have – we tend to forget that a big portion of the world live in sub-human condition. Chimamanda Adichie, a Nigerian writer, warns us of the danger of a single story. She says that we sometimes create stereotypes of people just because we start “reading” people’s stories from the middle and not from the real beginning. There is a danger in thinking that because some many women live in oppression, they are not able to make huge changes in our society. I would like to share some stories of survivors, and hope you feel the urge to support them however you can.
Onde tudo começou – por que tenho paixão por esta causa
Moro no Canadá, um país de abundância e liberdade social, mas nasci no Brazil e passei a maior parte da minha vida ali. Posso me considerar uma pessoa privilegiada porque nunca conheci a pobreza. Quero dizer, sempre tive comida, água, roupa e moradia. No entanto, no Brasil é comum as pessoas da classe média se esbarrarem com aqueles que não tem nada.
Cresci nos anos 70, a época do Milagre Brasileiro, quando a economia prosperava e a classe média vivia em riqueza. Na nossa casa, tínhamos três empregados: duas mulheres, uma para cozinhar e outra para limpar, e um rapazinho, Sebastião, que cuidava do jardim, fazia pequenos serviços gerais e andava com o cachorro. Em países em desenvolvimento, quando a economia cresce, os ricos ficam mais ricos, e os pobres, mais pobres. Essa era a situação em casa.
Quando eu estava na 5ª. série, percebi que eu sabia ler e escrever, mas as pessoas como nossos empregados, não. As duas mulheres que trabalhavam para nós nunca tinham ido à escola. Então tomei uma decisão – iria usar meus livros de 1ª. série para ensiná-las a ler e escrever. Afinal, sempre quis ser professora. Comecei a ajudá-las a ler e escrever suas primeiras letras na garagem de casa. Dali em diante, sempre tive o desejo de ensinar, principalmente os que não tinham boa condição de vida.
Fui para a universidade e me formei em Linguística e Educação. Depois comecei a ensinar inglês. Gostava do que fazia, mas não me sentia realizada. Alguns anos mais tarde, com a ajuda de algumas amigas, iniciamos um curso de alfabetização numa ingreja em São Paulo. Isso era o que eu chamava de paraíso. Ajudamos dezenas de homens e mulheres a ler e escrever, e também instruimos as mulheres a respeito de saúde feminina. Que experiência fantástica.
Depois de alguns anos, fui para outra cidade e comecei o mesmo programa em outra igreja, onde tive o privilégio de ver lágrimas nos olhos dos alunos quando conseguiam ler um parágrafo simples. Esse é o poder da educação.
Minha vida deu suas voltas, e eu e minha família mudamos para o Canadá. Assim que cheguei, comecei a trabalhar num estabelecimento de ensino superior na cidade de Calgary on de, hoje ainda, ensino inglês a imigrantes e refugiados. A maioria dos imigrantes no Canadá são pessoas privilegiadas em seu país de origiem e isso lhes garantiu a residência permanente aqui. A maioria dos refugiados, no entanto, tiveram pouca ou quase nenhuma instrução formal no país de origem. Alguns deles viveram toda sua vida em campos de refugiados na África, por exemplo. De qualquer forma, a melhor coisa do meu trabalho é poder ouvir a história das pessoas. Ouso dizer que aprendo mais com meus alunos do que eles comigo. Essa experiência ampliou minha visão domundo, e me fez perceber como sou pequena e como a vida pode ser injusta. Há um grande perigo em não dar o devido valor ao que temos – nossa tendência é esquecer que uma grande parcela das pessoas vive em condição sub-humana. Chimamanda Adichie, uma escritora nigeriana, nos alerta sobre o perigo da história única. Ela diz que algumas vezes criamos estereotipos das pessoas porque começamos a “ler” suas histórias do meio e não do início. Corremos o risco de achar que só porque muitas mulheres vivem em opressão, elas não são capazes de gerar grande mudanças na sociedade. Quero compartilhar algumas histórias de sobreviventes e espero que você sinta a necessidade urgente de apoiá-las da forma que puder.
Nota: legenda em português disponível para o primeiro site